quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Não pratico o que aprendi

O frio fazia-se sentir no final da tarde. Abotoei o casaco e segui caminho. Entrei no escritório e pedi indicações sobre alguns materiais. Dissera-me que a pessoa que podia prestar informações sobre aqueles equipamentos tinha bastantes pessoas para atender antes de mim, seria melhor voltar no dia seguinte. Expliquei que necessitava de pormenores técnicos com urgência.
- Será possível falar com o responsável? Só para lhe explicar a situação. – Pedi com desespero.
Após muita insistência da minha parte e vendo que não me demoveriam com facilidade, trouxeram à minha presença o responsável. Na verdade era uma jovem mulher, de pele alva, cabelos platinados, olhos cinzentos e umas ancas bem delineadas. Ela olhou para mim de soslaio, depois escrutinou-me da cabeça aos pés. Após alguma indecisão, disse:
- Estou bastante ocupada, como lhe foi indicado. – Disse com aspereza – Mas se puder voltar por volta das 20 horas, posso abrir uma excepção. Terminarei o meu expediente e falarei consigo. Pode ser?
Concordei. Após cerca de uma hora e trinta minutos a deambular pelas ruas voltei ao escritório. Toquei à campainha e ela abriu-me a porta e conduziu-me ao seu gabinete.Indicou-me uma cadeira e perguntou debruçando-se sobre a secretária:
- Que posso fazer por si?
- Preciso das especificações técnicas para estes componentes. – Disse distraído, olhando o decote que parecia ter mais botões abertos que no encontro anterior.
Recebeu os ofícios e recostou-se na cadeira cruzando as pernas. Enquanto folheava os impressos passava, de forma distraída, uma das mãos na perna e na bainha da saia curta. Pediu-me alguns dados, e debrucei-me na mesa junto a ela, explicando em pormenor as especificações de alguns dos componentes.
- Que diabo se passa aqui! – Gritou um homem que entrou de rompante na sala. – Sua desavergonhada!
Perante a ameaça do pesado bastão que o homem brandia, recuamos até ficarmos encurralados contra a parede.
- Pai! Não é o que estás a pensar! – Disse ela choramingando. – É apenas uma reunião de trabalho.
- Não tens vergonha! – Rugiu o homem. – Não sei para que te eduquei! Não tens emenda!
- Não fiz nada paizinho!
- Repete comigo! – Ordenou o pai – Não sei para que fui educada! Não pratico o que aprendi!
Ela começou a entoar a frase e ele ordenou que repetisse também.
- Não sei para que fui educado! Não pratico o que aprendi!
- Agora desaparece!
Agarrei os ofícios e os catálogo e corri até à estação…