sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Tunnel of Love

O comboio parou na estação com um leve zumbido. Já passava das 21 horas e era o único a apear-me. Desci vagarosamente as escadas do túnel mal iluminado. Olhei desmoralizado para o alto da rampa de saída. Encostei-me à parede e cerrei os olhos tentando aliviar a tensão e varrer da mente todo este dia.
- Que está aqui a fazer? - Gritou uma voz - Vire-se devagar, levante as mãos e encoste-se à parede. Já!
- Desculpe. - Balbuciei - Quem é você?
- Quem faz as perguntas sou eu. - Replicou a voz feminina - Que está aqui a fazer? A tomar substâncias ilegais? A aguardar traficantes?
- De forma alguma agente. Acabo de chegar no comboio.
- O comboio já partiu há vários minutos! - Argumentou - Poderá ir-se embora se não tiver na posse de materiais ilegais. Vou fazer-lhe uma revista corporal.
- Mas…- Fiquei quieto! - Ordenou com firmeza - Não se tente virar. Vamos despachar isto. Tenho outros assuntos para tratar e quanto mais depressa melhor.
Começou a fazer a revista. Passou a mão pelos ombros e braços, depois pela parte inferior dos braços, axilas e foi descendo em direcção á cintura. Cuidadosamente verificou a parte exterior e interior das pernas. Mas quando se aproximou das virilhas mexi-me involuntariamente.
- Quieto! - Gritou pressionando-me com o cassetete entre as pernas o que me obrigou a ficar em bicos de pés para evitar algumas lesões. Verificou as costas e deteve-se uns segundos no traseiro.
- Interessante! - Murmurou no meu ouvido. Prosseguiu a revista passando a mão pelo peito com suavidade, desceu lentamente até ao abdómen e enfiou as pontas dos dedos na cintura das minhas calças.
- Meu rico, como te portaste bem e não trazes nada ilegal, é a tua vez de revistar-me!
Puxou-me da parede e assumiu a posição.
- Procura bem! - Ronronou - Posso ter algumas coisas bem escondidas!
Um bocado hesitante, por estar a revistar uma agente da polícia, segui o mesmo procedimento que ela havia feito tentando não tocar em zonas sensíveis.
- Vá lá querido! Não tenhas receio de usar as mãos!
Dizendo isto, puxou a minhas mãos e pressionou-as nas suas mamas. O meu corpo estava colado ao dela.
- Muito bem! A usar o cassetete! - Disse entre risos.
- Não é o cassetete... - Gaguejei.
- Vais ter que fazer uma pesquisa mais profunda para ver se encontras algo muito bem escondido! - Desceu as calças e arregaçou a fralda da camisa, mostrando o traseiro bem delineado. Segui o exemplo desabotoando as minhas calças. Com os dedos habilidosos conduziu-me para o seu interior através dos lábios.
- Acho que tens algo escondido! - Murmurei-lhe ao ouvido.
- Não vale plantar provas...
Beijei a sua boca e pela primeira vez contemplei os seus olhos azuis o rosto radiante.
- Obrigado por tratares do meu assunto pessoal. Se um dia precisares de ajuda, liga-me! - Disse, enfiando um cartão-de-visita no bolso da minha camisa. Beijou-me de novo e afastou-se dizendo. - Podes tratar-me por Júlia.
- O meu nome é...
- Roque. Eu sei... - disse sem se virar.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Night Train

A noite estava escura e o frio anunciava um Inverno antecipado. Estava sentado num banco á espera do próximo comboio. Decidira não embarcar no anterior devido á sua sobrelotação. Observava a azáfama dos gigantes de metal na gare, uns engolindo vorazmente centenas de trabalhadores e estudantes e outros regurgitando amarrotados despojos humanos.

Chegou o meu comboio que se encheu de imediato. Hesitei durante uns segundos, tentando decidir se entrava ou aguardava pelo seguinte. Com um pasmo indescritível observei as pessoas que continuavam a entrar nas carruagens. Chegar tarde a casa não era opção. Corri e saltei para o interior da carruagem, forçando o caminho com o ombro. Fiquei junto ao varão vertical na área das portas, sempre serviria de algum apoio. Estava completamente espremido entre aquelas pessoas e mais continuavam a entrar. Finalmente as portas fecharam e a composição arrancou suavemente sem dar conta da excessiva carga. Não me podia mexer, os meus pés mal tocavam no chão, estava suspenso entre todos aqueles corpos.

Não tínhamos chegado à estação seguinte quando me apercebi que estava completamente esmagado contra as costas de uma rapariga. Estava perfeitamente encaixado nela. Num ápice senti a carne entumecer e alojar-se entre as suas nádegas suaves. A rapariga debateu-se ferozmente com os corpos á sua volta e conseguir virar-se de frente para mim. Os seus olhos procuraram os meus e o seu rosto enrubesceu. A situação piorara. Conseguira apenas que ficasse comprimido contra a sua púbis e o peito generoso contra o meu.

Ainda bem que os olhares não matam. Porque se assim fosse, teria virado carne picada num instante. Apesar da sua situação burlesca, fixou os seus olhos com ferocidade nos meus e não cedeu durante toda a viagem. Não me atrevi a mexer nem mesmo a desviar o olhar.

domingo, 12 de outubro de 2008

Choque Frontal

Ontem foi a noite do concerto. A aparelhagem cedida revelou-se problemática. Os poucos canais da mesa de mistura que não estavam queimados não aguentavam a impedância dos instrumentos. A audiência não se mostrou melhor. Composta por motoqueiros, punks e alguns góticos. Pensámos inicialmente que teríamos uma audiência apreciadora de rock. Estávamos enganados. Ou talvez fossem os músicos. Iniciámos o concerto que perante um público estático. Um choque verdadeiro choque frontal.
Enquanto tocava, sentia que o mundo estava parado. Podia largar os instrumentos e circular entre as pessoas, sem que estas se mexessem ou fechassem os maxilares descaídos. No final da primeira música fiz sinal aos outros para mudarmos o alinhamento. O pasmo nas se afastou dos seus rostos mas já pareciam mais receptivos e capazes de interiorizar o que estávamos a transmitir.
Ivone encontrava-se entre o público acompanhado do tal amigo, um pseudo-punk. Um betinho armado em rebelde com a sua vestimenta de marca - um punk plástico. Demos o nosso melhor. Esforçámo-nos para satisfazer o público. Muito mais do que faríamos para qualquer outra audiência. Não éramos profissionais, nem pretendíamos vier a ser, Honrámos o nosso compromisso.
Terminámos o espectáculo mais estarrecidos que no seu inicio ou mesmo na sua duração. Fomos presenteados com uma grande ovação. E toda a gente veio para nos cumprimentar e congratular. Grande surpresa. Afinal o nosso improvável público apreciava a música com a máxima atenção.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Não gosto de ti

Dirigi-me ao balcão para pedir bebidas. Reparei que a Ivone estava a fazer o seu pedido. Coloquei-me a seu lado e cumprimentei-a.
- Conheço-te! – Disse olhando-me de soslaio e com algum desdém. Não sabendo o que dizer, peguei nas bebidas e afastei-me do balcão. Entreguei as bebidas aos rapazes e conversamos animadamente, comentando e apreciando os músicos que se sucediam no pequeno palco. Era dia de “Jam Sessions”.
Logo que tivemos oportunidade subimos ao palco e tocamos “While my guitar gently wheeps” e “Little wing”. Quando descemos do palco Ivone estava sentada na nossa mesa.
- Roque, desculpa a partida de há pouco! – Disse mostrando um sorriso inocente.
- Desculpas de quê? – Repliquei.
- Gostava de vos pedir um favor. – O sorriso inocente reapareceu no seu rosto – Prometi a um amigo que lhe arranjava uma banda para a festa do grupo dele, mas até agora não consegui nada. Ouvi dizer que vocês estão a formar uma banda.
- Ainda estamos no começo. – Disse Orlando com orgulho – Ainda temos muitos ensaios pela frente.
- Estão progredir muito bem. – Retorquiu – A avaliar pelo que acabo de ouvir.
- Para quando é o concerto? – Inquiriu Américo.
- É no próximo sábado. Estão livres para esse dia?
Assim que acertamos os pormenores Ivone dirigiu-se para a esplanada. Segui-a. Não podia deixar passar mais um dia sem falar com ela. Amava aquela rapariga há tanto tempo que cada dia que passa sem lhe dizer nada se tornava simplesmente insuportável. Meti conversa e dirigi a temática para o tópico que me interessava. Depois de uma longa e eloquente declaração dos meus sentimentos ela disse: - Achas que algum dia iria reparar em ti! Após tanta dedicação, inúmeras insinuações e demonstrações de carinho, ouvir as suas longas sessões de desabafos, foi como se me tivesse dado um murro no estômago. Poderia ter dito: “Não gosto de ti!”.

Quando contei aos rapazes, riram-se e disseram que era mais um knock-out completo: murro no estômago seguido de uma joelhada nos queixos.
- Não me admira nada! – Comentou o Orlando – Sempre que ficava mais animada depois confessionário contigo corria para os braços do Fonseca. O idiota ofereceu-lhe flores e ela ficou logo caidinha.

sábado, 4 de outubro de 2008

De manhã eu vou ao pão

Saí para a rua. Desci as escadas e enfrentei a frescura da manhã de Outono com um leve arrepio. No passeio fui interpelado pela vizinha da frente.
- O seu gato não me deixa dormir! – Queixou-se – Faz barulho a noite toda!
Não respondi de imediato. Surpreso pela confrontação e pelo facto de ela se ter encostado a mim. O seu peito encostado ao meu. Podia sentir o seu bafo quente no rosto.
- Eu não tenho nenhum gato! – Balbuciei.
- E o que é aquilo na sua janela? – Ripostou apontando para o vulto na janela. – Aquelas orelhas e bigodes…
- É uma guitarra. – Afirmei.
Afastou-se rapidamente de mim e resmungou quando já estava de braço dado com o seu namorado do outro lado da rua.
- Veja se mantém o animal silencioso durante a noite!
Entraram na pastelaria. Atravessei a rua e fiz mesmo. Sentei-me numa mesa. Estranha coincidência, ela estava sentada à minha frente. O namorado dirigiu-se à vitrina para escolher os bolos. Ela olhava para mim de uma forma enigmática, com o longo cabelo louro pousado nos ombros bronzeados, emoldurando o peito que ainda há pouco se encostara ao meu, e por baixo do tampo de vidro da mesa exibia umas lindas pernas. Descruzou-as. Afastou-as lentamente e quando a saia subiu ligeiramente pude ver a verdade nua. Nada trazia por baixo.
O namorado sentou-se em frente a ela, ocultando-me a visão. Falava animadamente com ele, mas o seu olhar provocante caía sobre mim. Fui comprar algum pão ao balcão e saí intrigado.