domingo, 1 de novembro de 2009

Message in a bottle

Saí com os rapazes para a noite de halloween. Fomos até à costa para sondar os bares, na esperança de encontrar algum com um bom ambiente. Passamos em frente a alguns bares. Pouco agradados, decidimos tentar o Casino. Uma vez, estava aquém das nossas expectativas.

Seguimos pela avenida marginal. Vários grupos caminhavam pela areia e muitos outros já se haviam instalado na praia fazendo a sua própria festa.

Fomos à mala do carro buscar o nosso bar constituído por alguns packs de cerveja, vodka e whisky. Instalamo-nos, e em breve outros grupos surgiram e foram ocupando os espaços à nossa volta. As conversas e as gargalhadas misturavam-se como também as bocas, piropos e as bebidas.

Os meus olhos recaíam por diversas sobre uma pessoa que estava sozinha, isolada dos grupos. Entre palavras e risos, desviava o olhar na direcção daquela rapariga estática. Olhei uma vez mais e não a vi. Procurei sem sucesso entre os diversos grupos. Fiquei alarmado quando a entrevi a caminhar catatónica até ao mar, prosseguindo sem dar mostras de querer parar.

Corri até ela. Segurei por um braço. Parou. A água ultrapassava a nossa cintura. Fitei-a e só então percebi que estava diante da minha vizinha. Vestida de bruxa sexy. A maquilhagem borrada e os olhos inflamados indicavam um longo choro. Puxei-a levemente pela mão. Ela deixou-se conduzir sem resistência até uma das fogueiras.

De início nada dissemos. Ficamos ali a ver as chamas. Sem a encarar, tentei anima-la. Entre soluços contou-me acerca de uma violenta discussão com o seu parceiro. Estava devastada. Queria acabar com a vida.

Em tom de brincadeira, disse-lhe que devia expurgar o que a afligia. Gritar. Enviar para longe a dor. Talvez enviá-la numa garrafa. Recolhi algumas das garrafas que estavam espalhadas pela praia e estendi-lhe uma. Aceitou-a com um certo pasmo e desconfiança. Peguei numa garrafa gritei uns insultos pelo gargalo, tapei-a rapidamente e depois atirei, com um ar solene, para uns metros mais adiante na areia. Franziu o sobrolho. Repeti o processo e ela imitou-me.

O seu nome é Ângela. Angie.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

She Drives me Crazy

Decanso.

Sentado à janela dedilhando uns acordes. No outro lado da rua a vizinha abre acena e pede-me para a abrir a janela. Pergunta-me se quero uma amêndoa. Encolho os ombros com indiferença, mas faço um gesto com a mão para que me atire uma.

Entre risinhos, escolhe uma cor-de-rosa no pacote, mete-a a boca e depois arremessa-a através da rua. Indeciso, fico a olhar para a amêndoa molhada.

No outro lado da rua, o companheiro da loura envolve-a com os braços e puxa-a para dentro da divisão onde se envolvem num lânguido beijo.

Que se lixe! Pensei. Meti a amêndoa à boca.

sábado, 21 de março de 2009

Momentary Lapse

Caminhava pela rua distraído.
Esbarrei-me com alguém, um encostar de ombros. Era a vizinha do outro lado da rua. A fúria no seu rosto era devastadora, o olhar profundo e uma expressão de enjoo.
Mas quando se virou e seguiu caminho, o pequeno repuxar do canto do lábio, numa expressão de prazer, não me deixou quaisquer dúvidas.

Sorri e prossegui o meu caminho.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Phantom of the Oprah

Não há dúvida que a TV é um bom entretenimento. Fazer um zapping contínuo do canal 1 ao 60, e recomeçando de novo, na esperança de encontrar algo interessante para ver. É um verdadeiro exercício Zen.


Estava a dormitar quando senti algo frio e húmido na mão que segurava o comando. Soava uma voz e ecoavam aplausos longínquos. Estranhamente estava a dar a Oprah, quando tinha a certeza que o último canal que vira era o VH1. Não sei explicar mas senti urgência em dar uma mija.


Quando saía da sala tive a sensação de ouvir passos atrás de mim. Nada vi. Quando voltava pelo corredor, ouvi passos cuidadosos e vislumbrei um vulto a atravessar a sala. Senti um arrepio a percorrer a espinha. Peguei no primeiro objecto que me apareceu à frente e abri a porta com cautela. Não vi ninguém, mas percebia que algo atravessa a sala e derrubava alguns objectos e deteve-se junto à TV mudando os canais com rapidez e regressava à Oprah.


Quase arremessei o objecto que tinha na mão contra o aparelho, quando me apercebi que era apenas um pequeno rato.A tentação de o esborrachar, devido ao susto que me pregou, era grande. Mas o seu terror era tal que não se conseguiu mexer quando me aproximei. Coloquei-o no braço do sofá, dei-lhe um acepipe, uma festinha nas costas e deixei-o a ver o seu canal favorito.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Não pratico o que aprendi

O frio fazia-se sentir no final da tarde. Abotoei o casaco e segui caminho. Entrei no escritório e pedi indicações sobre alguns materiais. Dissera-me que a pessoa que podia prestar informações sobre aqueles equipamentos tinha bastantes pessoas para atender antes de mim, seria melhor voltar no dia seguinte. Expliquei que necessitava de pormenores técnicos com urgência.
- Será possível falar com o responsável? Só para lhe explicar a situação. – Pedi com desespero.
Após muita insistência da minha parte e vendo que não me demoveriam com facilidade, trouxeram à minha presença o responsável. Na verdade era uma jovem mulher, de pele alva, cabelos platinados, olhos cinzentos e umas ancas bem delineadas. Ela olhou para mim de soslaio, depois escrutinou-me da cabeça aos pés. Após alguma indecisão, disse:
- Estou bastante ocupada, como lhe foi indicado. – Disse com aspereza – Mas se puder voltar por volta das 20 horas, posso abrir uma excepção. Terminarei o meu expediente e falarei consigo. Pode ser?
Concordei. Após cerca de uma hora e trinta minutos a deambular pelas ruas voltei ao escritório. Toquei à campainha e ela abriu-me a porta e conduziu-me ao seu gabinete.Indicou-me uma cadeira e perguntou debruçando-se sobre a secretária:
- Que posso fazer por si?
- Preciso das especificações técnicas para estes componentes. – Disse distraído, olhando o decote que parecia ter mais botões abertos que no encontro anterior.
Recebeu os ofícios e recostou-se na cadeira cruzando as pernas. Enquanto folheava os impressos passava, de forma distraída, uma das mãos na perna e na bainha da saia curta. Pediu-me alguns dados, e debrucei-me na mesa junto a ela, explicando em pormenor as especificações de alguns dos componentes.
- Que diabo se passa aqui! – Gritou um homem que entrou de rompante na sala. – Sua desavergonhada!
Perante a ameaça do pesado bastão que o homem brandia, recuamos até ficarmos encurralados contra a parede.
- Pai! Não é o que estás a pensar! – Disse ela choramingando. – É apenas uma reunião de trabalho.
- Não tens vergonha! – Rugiu o homem. – Não sei para que te eduquei! Não tens emenda!
- Não fiz nada paizinho!
- Repete comigo! – Ordenou o pai – Não sei para que fui educada! Não pratico o que aprendi!
Ela começou a entoar a frase e ele ordenou que repetisse também.
- Não sei para que fui educado! Não pratico o que aprendi!
- Agora desaparece!
Agarrei os ofícios e os catálogo e corri até à estação…

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Tunnel of Love

O comboio parou na estação com um leve zumbido. Já passava das 21 horas e era o único a apear-me. Desci vagarosamente as escadas do túnel mal iluminado. Olhei desmoralizado para o alto da rampa de saída. Encostei-me à parede e cerrei os olhos tentando aliviar a tensão e varrer da mente todo este dia.
- Que está aqui a fazer? - Gritou uma voz - Vire-se devagar, levante as mãos e encoste-se à parede. Já!
- Desculpe. - Balbuciei - Quem é você?
- Quem faz as perguntas sou eu. - Replicou a voz feminina - Que está aqui a fazer? A tomar substâncias ilegais? A aguardar traficantes?
- De forma alguma agente. Acabo de chegar no comboio.
- O comboio já partiu há vários minutos! - Argumentou - Poderá ir-se embora se não tiver na posse de materiais ilegais. Vou fazer-lhe uma revista corporal.
- Mas…- Fiquei quieto! - Ordenou com firmeza - Não se tente virar. Vamos despachar isto. Tenho outros assuntos para tratar e quanto mais depressa melhor.
Começou a fazer a revista. Passou a mão pelos ombros e braços, depois pela parte inferior dos braços, axilas e foi descendo em direcção á cintura. Cuidadosamente verificou a parte exterior e interior das pernas. Mas quando se aproximou das virilhas mexi-me involuntariamente.
- Quieto! - Gritou pressionando-me com o cassetete entre as pernas o que me obrigou a ficar em bicos de pés para evitar algumas lesões. Verificou as costas e deteve-se uns segundos no traseiro.
- Interessante! - Murmurou no meu ouvido. Prosseguiu a revista passando a mão pelo peito com suavidade, desceu lentamente até ao abdómen e enfiou as pontas dos dedos na cintura das minhas calças.
- Meu rico, como te portaste bem e não trazes nada ilegal, é a tua vez de revistar-me!
Puxou-me da parede e assumiu a posição.
- Procura bem! - Ronronou - Posso ter algumas coisas bem escondidas!
Um bocado hesitante, por estar a revistar uma agente da polícia, segui o mesmo procedimento que ela havia feito tentando não tocar em zonas sensíveis.
- Vá lá querido! Não tenhas receio de usar as mãos!
Dizendo isto, puxou a minhas mãos e pressionou-as nas suas mamas. O meu corpo estava colado ao dela.
- Muito bem! A usar o cassetete! - Disse entre risos.
- Não é o cassetete... - Gaguejei.
- Vais ter que fazer uma pesquisa mais profunda para ver se encontras algo muito bem escondido! - Desceu as calças e arregaçou a fralda da camisa, mostrando o traseiro bem delineado. Segui o exemplo desabotoando as minhas calças. Com os dedos habilidosos conduziu-me para o seu interior através dos lábios.
- Acho que tens algo escondido! - Murmurei-lhe ao ouvido.
- Não vale plantar provas...
Beijei a sua boca e pela primeira vez contemplei os seus olhos azuis o rosto radiante.
- Obrigado por tratares do meu assunto pessoal. Se um dia precisares de ajuda, liga-me! - Disse, enfiando um cartão-de-visita no bolso da minha camisa. Beijou-me de novo e afastou-se dizendo. - Podes tratar-me por Júlia.
- O meu nome é...
- Roque. Eu sei... - disse sem se virar.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Night Train

A noite estava escura e o frio anunciava um Inverno antecipado. Estava sentado num banco á espera do próximo comboio. Decidira não embarcar no anterior devido á sua sobrelotação. Observava a azáfama dos gigantes de metal na gare, uns engolindo vorazmente centenas de trabalhadores e estudantes e outros regurgitando amarrotados despojos humanos.

Chegou o meu comboio que se encheu de imediato. Hesitei durante uns segundos, tentando decidir se entrava ou aguardava pelo seguinte. Com um pasmo indescritível observei as pessoas que continuavam a entrar nas carruagens. Chegar tarde a casa não era opção. Corri e saltei para o interior da carruagem, forçando o caminho com o ombro. Fiquei junto ao varão vertical na área das portas, sempre serviria de algum apoio. Estava completamente espremido entre aquelas pessoas e mais continuavam a entrar. Finalmente as portas fecharam e a composição arrancou suavemente sem dar conta da excessiva carga. Não me podia mexer, os meus pés mal tocavam no chão, estava suspenso entre todos aqueles corpos.

Não tínhamos chegado à estação seguinte quando me apercebi que estava completamente esmagado contra as costas de uma rapariga. Estava perfeitamente encaixado nela. Num ápice senti a carne entumecer e alojar-se entre as suas nádegas suaves. A rapariga debateu-se ferozmente com os corpos á sua volta e conseguir virar-se de frente para mim. Os seus olhos procuraram os meus e o seu rosto enrubesceu. A situação piorara. Conseguira apenas que ficasse comprimido contra a sua púbis e o peito generoso contra o meu.

Ainda bem que os olhares não matam. Porque se assim fosse, teria virado carne picada num instante. Apesar da sua situação burlesca, fixou os seus olhos com ferocidade nos meus e não cedeu durante toda a viagem. Não me atrevi a mexer nem mesmo a desviar o olhar.