quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Não pratico o que aprendi

O frio fazia-se sentir no final da tarde. Abotoei o casaco e segui caminho. Entrei no escritório e pedi indicações sobre alguns materiais. Dissera-me que a pessoa que podia prestar informações sobre aqueles equipamentos tinha bastantes pessoas para atender antes de mim, seria melhor voltar no dia seguinte. Expliquei que necessitava de pormenores técnicos com urgência.
- Será possível falar com o responsável? Só para lhe explicar a situação. – Pedi com desespero.
Após muita insistência da minha parte e vendo que não me demoveriam com facilidade, trouxeram à minha presença o responsável. Na verdade era uma jovem mulher, de pele alva, cabelos platinados, olhos cinzentos e umas ancas bem delineadas. Ela olhou para mim de soslaio, depois escrutinou-me da cabeça aos pés. Após alguma indecisão, disse:
- Estou bastante ocupada, como lhe foi indicado. – Disse com aspereza – Mas se puder voltar por volta das 20 horas, posso abrir uma excepção. Terminarei o meu expediente e falarei consigo. Pode ser?
Concordei. Após cerca de uma hora e trinta minutos a deambular pelas ruas voltei ao escritório. Toquei à campainha e ela abriu-me a porta e conduziu-me ao seu gabinete.Indicou-me uma cadeira e perguntou debruçando-se sobre a secretária:
- Que posso fazer por si?
- Preciso das especificações técnicas para estes componentes. – Disse distraído, olhando o decote que parecia ter mais botões abertos que no encontro anterior.
Recebeu os ofícios e recostou-se na cadeira cruzando as pernas. Enquanto folheava os impressos passava, de forma distraída, uma das mãos na perna e na bainha da saia curta. Pediu-me alguns dados, e debrucei-me na mesa junto a ela, explicando em pormenor as especificações de alguns dos componentes.
- Que diabo se passa aqui! – Gritou um homem que entrou de rompante na sala. – Sua desavergonhada!
Perante a ameaça do pesado bastão que o homem brandia, recuamos até ficarmos encurralados contra a parede.
- Pai! Não é o que estás a pensar! – Disse ela choramingando. – É apenas uma reunião de trabalho.
- Não tens vergonha! – Rugiu o homem. – Não sei para que te eduquei! Não tens emenda!
- Não fiz nada paizinho!
- Repete comigo! – Ordenou o pai – Não sei para que fui educada! Não pratico o que aprendi!
Ela começou a entoar a frase e ele ordenou que repetisse também.
- Não sei para que fui educado! Não pratico o que aprendi!
- Agora desaparece!
Agarrei os ofícios e os catálogo e corri até à estação…

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Tunnel of Love

O comboio parou na estação com um leve zumbido. Já passava das 21 horas e era o único a apear-me. Desci vagarosamente as escadas do túnel mal iluminado. Olhei desmoralizado para o alto da rampa de saída. Encostei-me à parede e cerrei os olhos tentando aliviar a tensão e varrer da mente todo este dia.
- Que está aqui a fazer? - Gritou uma voz - Vire-se devagar, levante as mãos e encoste-se à parede. Já!
- Desculpe. - Balbuciei - Quem é você?
- Quem faz as perguntas sou eu. - Replicou a voz feminina - Que está aqui a fazer? A tomar substâncias ilegais? A aguardar traficantes?
- De forma alguma agente. Acabo de chegar no comboio.
- O comboio já partiu há vários minutos! - Argumentou - Poderá ir-se embora se não tiver na posse de materiais ilegais. Vou fazer-lhe uma revista corporal.
- Mas…- Fiquei quieto! - Ordenou com firmeza - Não se tente virar. Vamos despachar isto. Tenho outros assuntos para tratar e quanto mais depressa melhor.
Começou a fazer a revista. Passou a mão pelos ombros e braços, depois pela parte inferior dos braços, axilas e foi descendo em direcção á cintura. Cuidadosamente verificou a parte exterior e interior das pernas. Mas quando se aproximou das virilhas mexi-me involuntariamente.
- Quieto! - Gritou pressionando-me com o cassetete entre as pernas o que me obrigou a ficar em bicos de pés para evitar algumas lesões. Verificou as costas e deteve-se uns segundos no traseiro.
- Interessante! - Murmurou no meu ouvido. Prosseguiu a revista passando a mão pelo peito com suavidade, desceu lentamente até ao abdómen e enfiou as pontas dos dedos na cintura das minhas calças.
- Meu rico, como te portaste bem e não trazes nada ilegal, é a tua vez de revistar-me!
Puxou-me da parede e assumiu a posição.
- Procura bem! - Ronronou - Posso ter algumas coisas bem escondidas!
Um bocado hesitante, por estar a revistar uma agente da polícia, segui o mesmo procedimento que ela havia feito tentando não tocar em zonas sensíveis.
- Vá lá querido! Não tenhas receio de usar as mãos!
Dizendo isto, puxou a minhas mãos e pressionou-as nas suas mamas. O meu corpo estava colado ao dela.
- Muito bem! A usar o cassetete! - Disse entre risos.
- Não é o cassetete... - Gaguejei.
- Vais ter que fazer uma pesquisa mais profunda para ver se encontras algo muito bem escondido! - Desceu as calças e arregaçou a fralda da camisa, mostrando o traseiro bem delineado. Segui o exemplo desabotoando as minhas calças. Com os dedos habilidosos conduziu-me para o seu interior através dos lábios.
- Acho que tens algo escondido! - Murmurei-lhe ao ouvido.
- Não vale plantar provas...
Beijei a sua boca e pela primeira vez contemplei os seus olhos azuis o rosto radiante.
- Obrigado por tratares do meu assunto pessoal. Se um dia precisares de ajuda, liga-me! - Disse, enfiando um cartão-de-visita no bolso da minha camisa. Beijou-me de novo e afastou-se dizendo. - Podes tratar-me por Júlia.
- O meu nome é...
- Roque. Eu sei... - disse sem se virar.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Night Train

A noite estava escura e o frio anunciava um Inverno antecipado. Estava sentado num banco á espera do próximo comboio. Decidira não embarcar no anterior devido á sua sobrelotação. Observava a azáfama dos gigantes de metal na gare, uns engolindo vorazmente centenas de trabalhadores e estudantes e outros regurgitando amarrotados despojos humanos.

Chegou o meu comboio que se encheu de imediato. Hesitei durante uns segundos, tentando decidir se entrava ou aguardava pelo seguinte. Com um pasmo indescritível observei as pessoas que continuavam a entrar nas carruagens. Chegar tarde a casa não era opção. Corri e saltei para o interior da carruagem, forçando o caminho com o ombro. Fiquei junto ao varão vertical na área das portas, sempre serviria de algum apoio. Estava completamente espremido entre aquelas pessoas e mais continuavam a entrar. Finalmente as portas fecharam e a composição arrancou suavemente sem dar conta da excessiva carga. Não me podia mexer, os meus pés mal tocavam no chão, estava suspenso entre todos aqueles corpos.

Não tínhamos chegado à estação seguinte quando me apercebi que estava completamente esmagado contra as costas de uma rapariga. Estava perfeitamente encaixado nela. Num ápice senti a carne entumecer e alojar-se entre as suas nádegas suaves. A rapariga debateu-se ferozmente com os corpos á sua volta e conseguir virar-se de frente para mim. Os seus olhos procuraram os meus e o seu rosto enrubesceu. A situação piorara. Conseguira apenas que ficasse comprimido contra a sua púbis e o peito generoso contra o meu.

Ainda bem que os olhares não matam. Porque se assim fosse, teria virado carne picada num instante. Apesar da sua situação burlesca, fixou os seus olhos com ferocidade nos meus e não cedeu durante toda a viagem. Não me atrevi a mexer nem mesmo a desviar o olhar.

domingo, 12 de outubro de 2008

Choque Frontal

Ontem foi a noite do concerto. A aparelhagem cedida revelou-se problemática. Os poucos canais da mesa de mistura que não estavam queimados não aguentavam a impedância dos instrumentos. A audiência não se mostrou melhor. Composta por motoqueiros, punks e alguns góticos. Pensámos inicialmente que teríamos uma audiência apreciadora de rock. Estávamos enganados. Ou talvez fossem os músicos. Iniciámos o concerto que perante um público estático. Um choque verdadeiro choque frontal.
Enquanto tocava, sentia que o mundo estava parado. Podia largar os instrumentos e circular entre as pessoas, sem que estas se mexessem ou fechassem os maxilares descaídos. No final da primeira música fiz sinal aos outros para mudarmos o alinhamento. O pasmo nas se afastou dos seus rostos mas já pareciam mais receptivos e capazes de interiorizar o que estávamos a transmitir.
Ivone encontrava-se entre o público acompanhado do tal amigo, um pseudo-punk. Um betinho armado em rebelde com a sua vestimenta de marca - um punk plástico. Demos o nosso melhor. Esforçámo-nos para satisfazer o público. Muito mais do que faríamos para qualquer outra audiência. Não éramos profissionais, nem pretendíamos vier a ser, Honrámos o nosso compromisso.
Terminámos o espectáculo mais estarrecidos que no seu inicio ou mesmo na sua duração. Fomos presenteados com uma grande ovação. E toda a gente veio para nos cumprimentar e congratular. Grande surpresa. Afinal o nosso improvável público apreciava a música com a máxima atenção.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Não gosto de ti

Dirigi-me ao balcão para pedir bebidas. Reparei que a Ivone estava a fazer o seu pedido. Coloquei-me a seu lado e cumprimentei-a.
- Conheço-te! – Disse olhando-me de soslaio e com algum desdém. Não sabendo o que dizer, peguei nas bebidas e afastei-me do balcão. Entreguei as bebidas aos rapazes e conversamos animadamente, comentando e apreciando os músicos que se sucediam no pequeno palco. Era dia de “Jam Sessions”.
Logo que tivemos oportunidade subimos ao palco e tocamos “While my guitar gently wheeps” e “Little wing”. Quando descemos do palco Ivone estava sentada na nossa mesa.
- Roque, desculpa a partida de há pouco! – Disse mostrando um sorriso inocente.
- Desculpas de quê? – Repliquei.
- Gostava de vos pedir um favor. – O sorriso inocente reapareceu no seu rosto – Prometi a um amigo que lhe arranjava uma banda para a festa do grupo dele, mas até agora não consegui nada. Ouvi dizer que vocês estão a formar uma banda.
- Ainda estamos no começo. – Disse Orlando com orgulho – Ainda temos muitos ensaios pela frente.
- Estão progredir muito bem. – Retorquiu – A avaliar pelo que acabo de ouvir.
- Para quando é o concerto? – Inquiriu Américo.
- É no próximo sábado. Estão livres para esse dia?
Assim que acertamos os pormenores Ivone dirigiu-se para a esplanada. Segui-a. Não podia deixar passar mais um dia sem falar com ela. Amava aquela rapariga há tanto tempo que cada dia que passa sem lhe dizer nada se tornava simplesmente insuportável. Meti conversa e dirigi a temática para o tópico que me interessava. Depois de uma longa e eloquente declaração dos meus sentimentos ela disse: - Achas que algum dia iria reparar em ti! Após tanta dedicação, inúmeras insinuações e demonstrações de carinho, ouvir as suas longas sessões de desabafos, foi como se me tivesse dado um murro no estômago. Poderia ter dito: “Não gosto de ti!”.

Quando contei aos rapazes, riram-se e disseram que era mais um knock-out completo: murro no estômago seguido de uma joelhada nos queixos.
- Não me admira nada! – Comentou o Orlando – Sempre que ficava mais animada depois confessionário contigo corria para os braços do Fonseca. O idiota ofereceu-lhe flores e ela ficou logo caidinha.

sábado, 4 de outubro de 2008

De manhã eu vou ao pão

Saí para a rua. Desci as escadas e enfrentei a frescura da manhã de Outono com um leve arrepio. No passeio fui interpelado pela vizinha da frente.
- O seu gato não me deixa dormir! – Queixou-se – Faz barulho a noite toda!
Não respondi de imediato. Surpreso pela confrontação e pelo facto de ela se ter encostado a mim. O seu peito encostado ao meu. Podia sentir o seu bafo quente no rosto.
- Eu não tenho nenhum gato! – Balbuciei.
- E o que é aquilo na sua janela? – Ripostou apontando para o vulto na janela. – Aquelas orelhas e bigodes…
- É uma guitarra. – Afirmei.
Afastou-se rapidamente de mim e resmungou quando já estava de braço dado com o seu namorado do outro lado da rua.
- Veja se mantém o animal silencioso durante a noite!
Entraram na pastelaria. Atravessei a rua e fiz mesmo. Sentei-me numa mesa. Estranha coincidência, ela estava sentada à minha frente. O namorado dirigiu-se à vitrina para escolher os bolos. Ela olhava para mim de uma forma enigmática, com o longo cabelo louro pousado nos ombros bronzeados, emoldurando o peito que ainda há pouco se encostara ao meu, e por baixo do tampo de vidro da mesa exibia umas lindas pernas. Descruzou-as. Afastou-as lentamente e quando a saia subiu ligeiramente pude ver a verdade nua. Nada trazia por baixo.
O namorado sentou-se em frente a ela, ocultando-me a visão. Falava animadamente com ele, mas o seu olhar provocante caía sobre mim. Fui comprar algum pão ao balcão e saí intrigado.

sábado, 27 de setembro de 2008

Paradise City

Após o jantar dirigi-me ao bar. Caminhei devagar pela rua aspirando o ar fresco do Outono. Apetecia-me tomar uma cerveja calmamente e esquecer tudo o resto. Sentei-me a um dos extremos do balcão e pedi uma cerveja. Era cedo e o bar ainda estava quase vazio. Entrou uma rapariga, loura, linda, sabia que ela era modelo. Encostou-se ao balcão, a curta distância de mim e iniciou uma conversa com a bar tender. Não lhes prestei atenção, dedicando-me a saborear a cerveja alemã. No entanto os teores dos temas de conversa libertaram-me da ataraxia.
- … o meu sobrinho de 5 anos – dizia a bar tender – quando me vê, anda sempre a tentar espreitar-me as mamas. Diz que são muito boas.
- Pudera! – Retorquiu a modelo – Andas sempre com elas à mostra nesse decote!
- É demais! Está sempre a tentar apalpar-me!
- O meu sobrinho nem me dá tempo! Apalpa-me logo! Diz ele: Tens umas maminhas tão fofas…
- As minhas são boas. – Disse a bar tender dirigindo-se a mim – Mas as dela são melhores. Não são? Eu já as vi. Às vezes passo os fins-de-semana com ela e, como muitas andamos nuas pela casa, já as vis montes de vezes e posso dizer que são mesmo muito boas.
- As dela são melhores! – Contrapôs a modelo.
- Diz-nos quais achas melhores? As minhas ou as delas? – Inclinaram-se as duas na minha direcção. A bar tender debruçou-se sobre o balcão deixando as mamas quase saírem pelo decote. A modelo firmou a camisola com ambas as mãos por baixo dos peitos fazendo-os realçar.
Olhei bem para ambas. Sorvi mais um gole de cerveja.
- Sem as ver é difícil de afirmar quais são as melhores. – Afirmei sem tomar qualquer partido.
- Dizes isso por que nos queres ver nuas. – Disse a modelo rindo-se - Não iremos convidar-te para um fim-de-semana lá em casa…
- Está uma rapariga do outro lado do balcão a olhar para ti. Conheces? – Perguntou-me a bar tender. – A maneira como olha… Está apaixonada por ti…
Era a Sara. Despedi-me dirigi-me ao outro extremo do balcão pensando: “Será? Mas, o seu olhar demonstra realmente uma paixão imensa…”. Sentei-me a seu lado. Ela sorriu e beijou-me a face com ternura, mas nada disse. Não falamos. Nada havia para dizer. Simplesmente sabíamos…

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Primeiro dia de trabalho

Acordei ensonado. Deixei-me adormecer de novo, para ser acordado pela intensa chuva. Metei-me no carro e segui na cauda do trânsito que se deslocava de forma pachorrenta. Os pneus dos automóveis à minha frente afastavam a água que inundava o piso de asfalto, mais parecendo lanchas dos pântanos que veículos de estrada.
Estou atrasado!
Tentava ultrapassar alguns carros, para logo ter que regressar ao meu lugar. Fiz outras tentativas que acabavam sempre goradas. Os limpa-vidros giravam ruidosamente e com insistência, tentando afastar a água. Resolvi ligar o rádio mais só apanhei estática. Raios! Vou chegar bastante tarde! Espreitei rapidamente a outra faixa da estrada e vi uma pequena janela de oportunidade. É agora! Tenho que ultrapassar! Acelerei e num gesto rápido comecei a ultrapassar o automóvel que seguia á minha frente. Só então me apercebi que estava quase em cima de uma curva. Sobre esta havia uma ponte firma na zona térrea que separava as duas faixas de rodagem. O carro embateu no betão e subiu a rampa, embateu com força nos pilares e caiu sobre a capota. Abri os olhos e saí. Não tinha nada, não havia sangue. Quando os agentes chegaram as minhas pernas fraquejaram e perdi os sentidos.

sábado, 20 de setembro de 2008

O Eterno Verão

Decidimos aproveitar o último dia de praia.
Passeámos pela cidade. O Américo e eu escolhemos alguns postais numa banca. O Orlando retirou um grande molho de postais, todos com o mesmo motivo. Pensei numas frases simples e engraçadas paras remeter para algumas amigas e amigos como recordação das férias. O Américo procedeu de igual forma. O Orlando rabiscava nos guardanapos, escrevia, amassava e voltava a escrever. Olhámos atónitos quando começou a copiar criteriosamente a mesma frase para todos os postais, remetendo-os no mínimo para duas dezenas de raparigas.
A meio da tarde fomos para uma esplanada em frente ao mar. Pedi uma cola com limão e O Américo e o Orlando optaram por uma caipirinha. O empregado inquiriu se pretendiam simples ou “preparada”. Ficaram com olhares esgazeados quando o empregado trouxe as capirinhas preparadas. Ri-me da expressão das caras deles ao ver os copos de tamanho jumbo e mais ainda quando sentiram o forte gosto da cachaça brasileira. Com sacrifício beberam o equivalente a meia dúzia de caipirinhas, no mínimo.
Caminhamos pela marginal e os rapazes trocando os passos decidiram dar um último passeio junto ao mar. Sentei-me no muro a ver o mar ao longe. O Orlando e o Américo batiam num tapa-vento e acabaram por derrubá-lo. Pontapeavam areia para cima dos banhistas e proferiam uma lengalenga que não conseguia perceber dali. Sentaram-se e começaram a falar com as alemãs que havíamos conhecido dias antes. Os companheiros das raparigas olhavam furiosos, sacudindo a areia. Eram uns motoqueiros enormes e de aspecto feroz, mas acabaram por pegar nos seus pertences irem embora nas suas potentes motos desportivas, deixando as miúdas para trás.
A Sara apareceu e, sentou-se a meu lado. Presenteou-me com um doce beijo na face e pediu-me para ir com ela para a praia. Caminhamos de braço na areia molhada, com o as suaves ondas a banharem-nos gentilmente os pés. Sentámo-nos numa pequena duna a ver o por do sol. O céu avermelhado e uma longa estrada prateada e cintilante que se estendia até ao horizonte.

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Repórter X em acção

Saímos para a praia. Num dos caminhos de acesso á praia havia um acidente. Um automobilista ao estacionar o carro embateu no tractor de um pescador se dirigia à praia para puxar as redes e os barcos. Tirámos várias fotos do acidente, com diferentes enquadramentos e planos de pormenor. Na ambulância o pescador gemia. Nos seus queixumes dizia que estava mal e que iria morrer.
- O que vai ser dos meus filhos! – Choramingava – A minha esposa…

Furamos por entre multidão que circundava a ambulância dizendo que éramos jornalistas. Dissemos ao pescador que éramos do jornal e se podíamos tirar fotos. Apoiou-se rapidamente sobre os cotovelos e fez um largo sorriso para a foto.

Na praia fizemos uma foto reportagem da actividade dos pescadores. A puxarem as redes, do pescado, dos barcos e tractores, das mulheres e das crianças que ajudavam na faina.

domingo, 14 de setembro de 2008

Vólei na praia

De bonés na cabeça, óculos escuros e bola de voleibol colorida debaixo do braço, dirigimo-nos à praia. Pelo caminho fomos interpelados por um idoso que nos perguntou:
- Are you Americans?
- Sorry?! – Perguntei com surpresa.
- Are you American basketball players?
Respondi que éramos apenas portugueses em férias.
- Pensei que fossem americanos! - Disse num português perfeito – Com esses bonés e a bola…Contou-nos que havia emigrado para os EUA há cerca de 50 anos, com apenas 15 anos de idade e que vinha pela primeira vez a Portugal, para conhecer a terra que o viu nascer. Fiquei espantado com sua forma de falar, o seu português era melhor que o da maioria de nós.

Na praia acercámo-nos de um grupo de raparigas e perguntamos se queriam jogar vólei connosco. Formámos um círculo e fizemos uma sessão de passes, machetes e muitos saltos acrobáticos. Decidimos propor um jogo, que talvez elas achassem ou pouco estranho mas que seria mais divertido. O jogo passou de vólei para bruto-bol; quem estivesse na posse da bola seria alvo de ataques do jogador mais próximo. Sempre que uma das raparigas estava na posse da bola passávamos ao ataque, mergulhando sobre ela. Rapidamente perceberam as regras e também passaram a atacar. Rebolávamos na areia, fazíamos cócegas, entre gritinhos e risos.

Jogávamos sem malícia, mas era óptimo sentir cada centímetro daqueles corpos jovens e deliciosos esmagados e apertados contra os nossos…

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Foto Show

O intenso sol intenso feria-nos a vista. Tiramos algumas fotos na marginal, nos bancos de rua e no muro que separa o passeio do areal. Decidimos fazer fotos de acção. Capturando frames de nós em grupo ou a sós caminhando na calçada. Fizemos fotos com planos de nós a aproximar-nos ou a afastar-nos. Quando nos dirigíamos para o centro da cidade, fizemos fotos a atravessar a passadeira. Interrompemos o trânsito quando decidimos tirar fotos a atravessarmos a passadeira em ambos os sentidos.
Compramos um protector solar num vendedor ambulante e fizemos uma sessão de fotos publicitárias ao produto adquirido.
Quando descíamos uma rua estreita reparámos numa barraca que vendia chapéus e bonés. Experimentámos os bonés e chapéus de palha fazendo de imediato uma sessão de fotos. Como não ficámos agradados pousámos os artigos. Entreolhámo-nos e quase em simultâneo pegámos em chapéus de abas largas, obviamente femininos. Tiramos fotografias subindo e descendo a rua, fazendo poses extravagantes, usando as tolhas como túnicas e saias. Os vendedores nas barracas e os turistas que passavam soltavam alegres gargalhadas perante o insólito desfile.
No centro comercial encontrámos uma loja que fazia t-shirts e bonés personalizados. Pedimos ao comerciante que fizesse uns bonés com o nome da nossa banda: “Amigos do Rock”. O homem resmungou afirmando que eram muitas letras e que o resultado final seria fraco. Talvez tivesse razão: o nome era foleiro. Pedimos-lhe que gravasse só “Rock”. Descemos as escadas em direcção á saída. De novo fizemos uma sessão de modelos nos degraus, fazendo publicidade ao protector. Escusado será dizer que ao longo do dia esgotámos todas as possibilidades de fotográficas usando o protector solar. No pátio exterior usamos os pilares e pequenos muros para fazer fotos de poses de estátuas e outras mais extravagantes.
Ficámos desconcertados quando fomos buscar os bonés vermelhos. Acima da pala tinham gravado: “SÓ ROCK!”

terça-feira, 9 de setembro de 2008

A Pinadeira

Tomávamos o pequeno-almoço quando ouvimos um grito estranho grito que parecia vir do outro lado da rua. Entreolhámo-nos e prosseguimos a refeição ligeira.
- Pinadeira! – Ouvia-se – Ó pinadeira!
Preparávamo-nos para sair do apartamento quando ouvimos uma altercação no corredor de acesso aos apartamentos. Lá fora uma rapariga debatia-se com um sujeito muito irritado. Era a rapariga do apartamento do lado, havia-se alojado há poucos dias. Com um rápida intervenção separámos o sujeito e conseguimos que se fosse embora.
- É um estúpido! – Proferiu a rapariga – Pensa que vou fazer sexo com ele!
- Deve ser mesmo estúpido! – Retorquiu Américo – Porque diabo havia ele de pensar que iria pinar contigo!
- Ele sabe que eu gosto de sexo! – Respondeu já mais calma – Mas só vou com quem quero e não é por dinheiro! Não sou uma reles pinadeira!
Como tinha os artigos de praia com ela, oferecem-nos para acompanhar, não fosse o sujeito importuná-la de novo. Agradecida, fez questão em fazer companhia durante a manhã no nosso recanto afastado da praia. Contamos histórias e anedotas. Mas o ponto alto foi quando decidimos fazer jogos. “Verdade ou Consequência” o nosso jogo favorito. Com uma pequena variante: não existem verdades, apenas consequências. Durante toda a manha a rapariga foi vítima de quase todas as consequências, deixando-nos brincar com o seu corpo.
Brincámos, chapinhámos e rimo-nos na praia. Depois de alguns mergulhos sentei-me na areia de pernas flectidas, observando o horizonte. A rapariga passou à minha frente com um olhar misterioso disse:
- Não precisas exibir-te! Já disse que não fazia sexo com nenhum de vós.
Não percebi o que quereria ela dizer. Vi-a pegar nas suas coisas e afastar-se.
- Tens os tomates de fora! – Gritou ao longe.
Malditos calções! Tenho que comprar outros.

domingo, 7 de setembro de 2008

Canções da praia

A aragem do mar está fresca. A vingança é um prato que se serve frio, costuma-se dizer. Com grande aparato instalámo-nos mesmo em frente à torre do nadador-salvador. Sentados em semi-circulo, comigo ao centro com a guitarra acústica. Sem dar hipótese à emissão radiofónica lamechas do nadador começou pode dedilhar o “Always somewhere” e no final do primeiro verso já os rapazes cantavam animadamente a plenos pulmões. As raparigas ao nosso lado apoiaram-se nos cotovelos olhando-nos com alguma surpresa. Depois de outra balada passei para algumas músicas rock animadas. Para tornar o acontecimento digno de nota passei para o reportório dos “The Cure”. As raparigas alemãs sentaram-se à nossa frente cantando e batendo palmas ao som do “Boys don’t cry”. Quando o público aumentou de forma considerável e o nadador já fervia, levantámo-nos e saímos.
Á tarde resolvemos escolher um local da praia mais afastado das grandes massas de banhistas de fim-de-semana. Estendemos as todas toalhas e apreciamos a paisagem circundante. Um pouco mais afastado do local onde estávamos um jovem casal conversava semi-escondido no topo de uma duna. Momentos depois Américo gritou:
- Viram! Ele está a puxar-lhe o sutiã e a espreitar as mamas.
Eles conversavam alegremente e por vezes a mão indiscreta puxava o sutiã da rapariga. Momentos depois a ousadia foi mais longe e ele espreitava por baixo do biquíni. Américo voltou a gritar quando a situação se inverteu, agora ela espreitava os calções do rapaz e rebolava de riso. O rapaz levantou-se e caminhou na nossa direcção. Disfarçámos fingindo que estávamos ocupados com outras distracções.
- Estão a divertir-se? – Perguntou quando passou por nós sem parar – Daqui por um bocado vão ter um espectáculo melhor, quando voltar da farmácia!Estávamos estupefactos, mas ficámos realmente boquiabertos quando reparámos que o Orlando caminhava em direcção à duna. Estaria completamente louco? Subiu a duna e meteu conversa com a rapariga. Pouco depois já se tinha sentado a seu lado. Ambos riam como se fossem conhecidos de longa data. Ele tocava-lhe nos ombros e no rosto enquanto falavam. Fiquei alarmado quando Américo me fez sinal que o namorado da rapariga estava de regresso. Olhámos para a duna e Orlando havia desaparecido. Quando o namorado da rapariga chegou à duna vimos Orlando a aproximar-se pela praia junto ao mar.

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Tell me the way

É bom sentir o sol na pele e inspirar a maresia.
Dirigíamo-nos à praia interpelando os transeuntes, perguntando-lhes:
- Excuse me! Can you tell me the way to the beach?
Caminhávamos mais um pouco e voltávamos a importunar os locais com a mesma pergunta.
No jardim do centro da cidade, deparei com uma rapariga sentada num banco. Fiz sinal aos rapazes e sentámo-nos no banco em frente a dizer piropos nada subtis e a enviar beijinhos. Ela, por vezes punha uma cara de zangada, ora baixava os olhos. Contudo, era-lhe difícil esconder o sorriso quando a nossa teatralidade era mais despropositada. Orlando sugeriu que simulássemos o acto de tirar uma fotografia. Dito e feito. Tirei a câmara da bolsa e apontei. Engoli em seco quando ao espreitar pela lente, vi um rapaz a beijá-la languidamente.
Apressamo-nos a entrar a atravessar o jardim e a entrar no autocarro que nos levaria até próximo da praia. Dentro do veículo o Orlando continuava a lançar beijinhos á rapariga e a dizer piropos. O namorado da rapariga barafustava, prometia-nos pancada e o Américo desafiava-o a atravessar a rua para nos confrantar.
O autocarro partiu no preciso momento em que o ofendido se aproximava de nós, louco de raiva, pronto a fazer-nos em papa.
Desfrutámos a praia. Mas, tornou-se impossível continuar a tolerar os galanteios foleiros que o nadador salvador continuava a fazer, de forma despropositada, às veraneantes ao nosso lado. Não bastasse importunar as mulheres, tinha o rádio a tocar música, horrivelmente lamechas, num volume gritante.
Abandonamos a praia frustrados, por terminar um dia que se havia iniciado de forma prometedora.

sábado, 30 de agosto de 2008

Surrealizar por aí

O destino desta noite é uma discoteca. Procuramos um canto e iniciamos as conversas do costume. A dada altura perguntei aos rapazes:
- Têm visto a Ivone?
- Tu mais a Ivone… - Disse Orlando – Essa conversa já chateia!
- Vens sempre com a mesma conversa! – Riu-se o Américo – Andas a mijar fora do cesto! Resolve o assunto com a rapariga ou esquece-a!

Olhei para a pista decepcionado. Todos a dançarem da mesma forma, a fazer os mesmos gestos e movimentos. Saltei para a pista com um gesto teatral. Quase em sintonia, saltou o Américo seguido pelo Orlando. Em breve percorríamos o pavimento ora fazendo movimentos totalmente aleatórios e absurdos para se coordenarem logo de seguida em passos sincronizados e elaborados. À nossa volta uns riam-se do absurdo enquanto outros olhavam com curiosidade.
Arregalei os olhos quando aquela actriz famosa, da qual não me recordo agora do nome*, apareceu a meu lado, sorrindo, também ela a surrealizar. Quando o círculo de olhares se tornou demasiado grande, abandonei a pista e dirigi-me ao bar.

A bar tender ao ver-me aproximar preparou-me o cocktail habitual. Sorvi um gole e apreciei a textura áspera da bebida.
- Pensei que toda a gente bebia vodka. – Disse a actriz que havia deslizado para o balcão, junto a mim.
- A vodka faz-me mal. – Respondi.
- O que é isso? – Perguntou com entusiasmo – Parece bastante bom. Também quero um.
- Traga outro Long Island Ice Tea. – Pedi à bar tender.
Encetamos uma breve conversa, enquanto apreciávamos as bebidas. Ela bebeu rapidamente o resto do cocktail quando os seus acompanhantes acenaram, indicando que iam sair do estabelecimento.

Bebia, absorto, outro cocktail quando reparei num olhar, doce e melancólico, pousado em mim. Era Sara. Uma grande amiga. Nada dizia. Olhava-me intensamente nos olhos. Percebi que não queria estar ali. Eu também já não queria estar ali. Paguei os cartões e saímos.

No exterior, coloquei o braço nas suas costas segurando pelo ombro e caminhamos pela rua. Sentámo-nos num banco e ficámos em silêncio a observar as estrelas. Antes de nos despedirmos ainda lhe disse:
- És uma pessoa maravilhosa! Tens que procurar um rapaz que veja todas as tuas qualidades...
- Talvez... - Respondeu encostando a cabeça no meu ombro - Para já, estou bem assim...
* Não pretendo divulgar o nome da pessoa aqui referida.

domingo, 24 de agosto de 2008

When love comes to town

Logo após o jantar saltei para o carro e desci a rua até ao centro para tomar um café na esplanada com a malta. Contando com o tráfego adicional, decidi meter por uma rua secundária e fazer parte do caminho a pé até à zona das esplanadas.

Desloquei-me por entre os transeuntes que passeavam calmamente neste início de noite agradável. Viam-se alguns vendedores de bugigangas, arte, gelados e algodão doce. Também havia artistas de rua. Um dos músicos chamou-me a atenção. Com a sua guitarra tocava um blues incrível. Escutei maravilhado e aplaudi, largando uma nota no chapéu como agradecimento pelo momento musical. Enquanto este agradecia, pedi-lhe para que me deixasse acompanhá-lo e apontei para o saxofone pousado no tripé. Peguei no sax e tentei tirar algumas notas, mas apenas conseguia retirar alguns guinchos.
- Por vezes é um pouco sentimental – disse – Está habituado a um velho como eu e nem sempre é fácil tirar-lhe um som. Sabes tocar guitarra?
- Sei uns acordes.
Trocamos de instrumentos e começou a tocar “When love comes to town” que eu havia tentado momentos antes. Ele era tão bom no sax como na guitarra. Fizemos uma pequena jam e a multidão que depressa se juntou ficou estonteada que o velho começou a cantar.
- Foi um prazer tocar consigo – disse-lhe em tom de agradecimento, e estendi-lhe a guitarra.
- Foste óptimo! Fica com ela.
- Não posso aceitar! – repliquei.
- É um presente. E tu mereceste-a tal como eu a mereci há uns anos. – contou – Quem ma ofereceu disse que pertenceu ao rei, mas não tenho a certeza.Referia-se a B.B. King.
Segui caminho levando a belissima guitarra Gibson LesPaul de 1959.

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Primeiro dia de férias

A excitação fez-me saltar da cama muito cedo. Enquanto lavava os dentes abri a janela para deixar entrar o ar fresco da manhã. Na janela do outro lado apareceu a nova vizinha. Sorriu e acenou. Ainda com a escova na mão retribuí o cumprimento. Ela pousou ambas as mãos no peitoril da janela, e com um gesto atirou o longo cabelo louro para trás. Que visão! Ela continuou… Mordiscava o lábio, piscava e revirava os olhos e dava risadinhas… Com a boca a espumar reparei que ela não estava vestida no preciso momento que umas mão surgiram e apalparam as mamas de forma vigorosa. Fechei rapidamente a janela embaraçado e de seguida preparei-me para sair.
Na rua, nem sequer me atrevi a olhar na direcção do apartamento da frente. Apressei-me a saltar para dentro do carro e apertar as mãos com firmeza no volante. O carro é um Golf clássico conversível, um presente do meu pai quando fiz dezoito anos. Aproveitei o Domingo para ir lá a casa de visita e tirá-lo da garagem.
Respirei fundo e sorri ao imaginar a gozar a doçura dos dias de Verão com os amigos. Virei a chave na ignição e apelei aos Santos para que este não me deixasse ficar mal. Pegou à primeira. Desci a rua suavemente. Na minha mente desenhou-se o peito perfeito da vizinha e na cara um sorriso idiota. Sentei-me na esplanada de um bar e liguei aos meus amigos para me acompanharem no café da manhã. Nada! Primeiro dia de férias. Desligaram os telemóveis e deixaram-se dormir até tarde. Tomei o pequeno-almoço sozinho, sentia o frio nas pernas e nos braços e acima de tudo oprimia-me toda aquela humilhação.

Meti-me no carro e decidi regressar. O céu estava nublado e começou chover. Cheguei a casa encharcado.
- Um duche matinal para tirar os calores! – Gritou a loura, entre risadas, quando descia a rua.

domingo, 17 de agosto de 2008

Entrada Zero

Escrevo este diário porque a minha vida é tão excitante como os penedos das encostas da Serra da Estrela. Nada acontece!
De início não sabia bem o que escrever. Poderia começar da forma tradicional: Querido Diário… Mas isso é totalmente idiota. Não se pode falar para um caderno ou computador. Quanto a chamar-lhe “Querido”, nem vou comentar…

Confesso que até um passado recente, há uma hora atrás, não sabia o que era um blog. Á conversa com um dos meus amigos, depois de emborcarmos umas cervejas, falei-lhe da inépcia que é a minha vida. «Se escrevesse um diário – dizia-lhe – nada teria para escrever, além da data». «Boa ideia – alentou ele – Porque não escreves um diário?». Expliquei-lhe que não tinha paciência para a escrita e que não iria comprar um caderno com capa ilustrada com flores e corações». «Não precisas de um caderno florido! Nem sequer de caneta! Escreve um blog!». Fiquei a pensar: Mas que coisa é essa? Blog? Apercebendo-se da minha expressão totalmente idiota, disse-me que um blog é um diário na Internet, é o acrónimo de Web Log, onde as pessoas podem escrever o que quiserem, o maior instrumento ao serviço da liberdade de expressão desde a invenção da imprensa. Fiquei pasmado. «Até que é uma coisa bem pensada! – disse-lhe – Tronco da Web». Remeti-me ao silêncio e bebi outra cerveja, quando me explicou que “log” é o termo inglês para “diário”. Mas continuo a achar que tronco faz mais sentido, e se gostasse de escrever, ainda enviava uma carta a esse inventor dos blogs.

Escrevo apenas com intuito de mostrar aos meus amigos e a todo o mundo que na minha vida não acontece nada.
Nenhum dos factos relatados é ficção. Chamo-me Roque e este é o meu diário!