O destino desta noite é uma discoteca. Procuramos um canto e iniciamos as conversas do costume. A dada altura perguntei aos rapazes:
- Têm visto a Ivone?
- Tu mais a Ivone… - Disse Orlando – Essa conversa já chateia!
- Vens sempre com a mesma conversa! – Riu-se o Américo – Andas a mijar fora do cesto! Resolve o assunto com a rapariga ou esquece-a!
Olhei para a pista decepcionado. Todos a dançarem da mesma forma, a fazer os mesmos gestos e movimentos. Saltei para a pista com um gesto teatral. Quase em sintonia, saltou o Américo seguido pelo Orlando. Em breve percorríamos o pavimento ora fazendo movimentos totalmente aleatórios e absurdos para se coordenarem logo de seguida em passos sincronizados e elaborados. À nossa volta uns riam-se do absurdo enquanto outros olhavam com curiosidade.
Arregalei os olhos quando aquela actriz famosa, da qual não me recordo agora do nome*, apareceu a meu lado, sorrindo, também ela a surrealizar. Quando o círculo de olhares se tornou demasiado grande, abandonei a pista e dirigi-me ao bar.
A bar tender ao ver-me aproximar preparou-me o cocktail habitual. Sorvi um gole e apreciei a textura áspera da bebida.
- Pensei que toda a gente bebia vodka. – Disse a actriz que havia deslizado para o balcão, junto a mim.
- A vodka faz-me mal. – Respondi.
- O que é isso? – Perguntou com entusiasmo – Parece bastante bom. Também quero um.
- Traga outro Long Island Ice Tea. – Pedi à bar tender.
Encetamos uma breve conversa, enquanto apreciávamos as bebidas. Ela bebeu rapidamente o resto do cocktail quando os seus acompanhantes acenaram, indicando que iam sair do estabelecimento.
Bebia, absorto, outro cocktail quando reparei num olhar, doce e melancólico, pousado em mim. Era Sara. Uma grande amiga. Nada dizia. Olhava-me intensamente nos olhos. Percebi que não queria estar ali. Eu também já não queria estar ali. Paguei os cartões e saímos.
No exterior, coloquei o braço nas suas costas segurando pelo ombro e caminhamos pela rua. Sentámo-nos num banco e ficámos em silêncio a observar as estrelas. Antes de nos despedirmos ainda lhe disse:
- És uma pessoa maravilhosa! Tens que procurar um rapaz que veja todas as tuas qualidades...
- Talvez... - Respondeu encostando a cabeça no meu ombro - Para já, estou bem assim...
* Não pretendo divulgar o nome da pessoa aqui referida.