terça-feira, 21 de outubro de 2008

Night Train

A noite estava escura e o frio anunciava um Inverno antecipado. Estava sentado num banco á espera do próximo comboio. Decidira não embarcar no anterior devido á sua sobrelotação. Observava a azáfama dos gigantes de metal na gare, uns engolindo vorazmente centenas de trabalhadores e estudantes e outros regurgitando amarrotados despojos humanos.

Chegou o meu comboio que se encheu de imediato. Hesitei durante uns segundos, tentando decidir se entrava ou aguardava pelo seguinte. Com um pasmo indescritível observei as pessoas que continuavam a entrar nas carruagens. Chegar tarde a casa não era opção. Corri e saltei para o interior da carruagem, forçando o caminho com o ombro. Fiquei junto ao varão vertical na área das portas, sempre serviria de algum apoio. Estava completamente espremido entre aquelas pessoas e mais continuavam a entrar. Finalmente as portas fecharam e a composição arrancou suavemente sem dar conta da excessiva carga. Não me podia mexer, os meus pés mal tocavam no chão, estava suspenso entre todos aqueles corpos.

Não tínhamos chegado à estação seguinte quando me apercebi que estava completamente esmagado contra as costas de uma rapariga. Estava perfeitamente encaixado nela. Num ápice senti a carne entumecer e alojar-se entre as suas nádegas suaves. A rapariga debateu-se ferozmente com os corpos á sua volta e conseguir virar-se de frente para mim. Os seus olhos procuraram os meus e o seu rosto enrubesceu. A situação piorara. Conseguira apenas que ficasse comprimido contra a sua púbis e o peito generoso contra o meu.

Ainda bem que os olhares não matam. Porque se assim fosse, teria virado carne picada num instante. Apesar da sua situação burlesca, fixou os seus olhos com ferocidade nos meus e não cedeu durante toda a viagem. Não me atrevi a mexer nem mesmo a desviar o olhar.

Sem comentários: