quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Não gosto de ti

Dirigi-me ao balcão para pedir bebidas. Reparei que a Ivone estava a fazer o seu pedido. Coloquei-me a seu lado e cumprimentei-a.
- Conheço-te! – Disse olhando-me de soslaio e com algum desdém. Não sabendo o que dizer, peguei nas bebidas e afastei-me do balcão. Entreguei as bebidas aos rapazes e conversamos animadamente, comentando e apreciando os músicos que se sucediam no pequeno palco. Era dia de “Jam Sessions”.
Logo que tivemos oportunidade subimos ao palco e tocamos “While my guitar gently wheeps” e “Little wing”. Quando descemos do palco Ivone estava sentada na nossa mesa.
- Roque, desculpa a partida de há pouco! – Disse mostrando um sorriso inocente.
- Desculpas de quê? – Repliquei.
- Gostava de vos pedir um favor. – O sorriso inocente reapareceu no seu rosto – Prometi a um amigo que lhe arranjava uma banda para a festa do grupo dele, mas até agora não consegui nada. Ouvi dizer que vocês estão a formar uma banda.
- Ainda estamos no começo. – Disse Orlando com orgulho – Ainda temos muitos ensaios pela frente.
- Estão progredir muito bem. – Retorquiu – A avaliar pelo que acabo de ouvir.
- Para quando é o concerto? – Inquiriu Américo.
- É no próximo sábado. Estão livres para esse dia?
Assim que acertamos os pormenores Ivone dirigiu-se para a esplanada. Segui-a. Não podia deixar passar mais um dia sem falar com ela. Amava aquela rapariga há tanto tempo que cada dia que passa sem lhe dizer nada se tornava simplesmente insuportável. Meti conversa e dirigi a temática para o tópico que me interessava. Depois de uma longa e eloquente declaração dos meus sentimentos ela disse: - Achas que algum dia iria reparar em ti! Após tanta dedicação, inúmeras insinuações e demonstrações de carinho, ouvir as suas longas sessões de desabafos, foi como se me tivesse dado um murro no estômago. Poderia ter dito: “Não gosto de ti!”.

Quando contei aos rapazes, riram-se e disseram que era mais um knock-out completo: murro no estômago seguido de uma joelhada nos queixos.
- Não me admira nada! – Comentou o Orlando – Sempre que ficava mais animada depois confessionário contigo corria para os braços do Fonseca. O idiota ofereceu-lhe flores e ela ficou logo caidinha.

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